sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Normalidade definida por anormais

A coadoção por casais do mesmo sexo é um assunto que aborda várias questões éticas que não estão nada relacionadas, mas mesmo nada, com a sexualidade. Estamos a discutir direitos que deviam ser iguais para todos e não são. Além disso, esta decisão teve por base o conceito de “família normal” que os deputados definiram. Só mesmo uma sociedade retrógrada acha impensável ponderar novos conceitos de família. Podia falar de casos de pais divorciados, mães solteiras, pais divorciados que partilham casa com amigos do mesmo sexo, crianças que são educadas pelos avós, crianças que são educadas por um tio ou uma tia, etc... Mas nem vou por aí.

Vamos apenas supor que eu vivo num país Africano e o governo desse país define que casais caucasianas não podem adotar crianças porque não estão dentro dos parâmetros de “família normal” deste país. Como é que isto se chama? Vou dar uma pista: começa com D e acaba em iscriminação. Ou então vamos supor que os deputados determinam que também não é saudável para uma criança ter pais de diferentes religiões (não vá ele achar que esfregar a barriga do Jesus gordo dá sorte, Deus nos proteja), ou que a raça lusitana está em perigo e, como tal, casais nórdicos não podem adotar porque vão poluir a cabecinha das nossas criancinhas latinas com deuses celtas e saunas onde estão todos nus (que nojo!).

Agora é a parte do chorrilho de pessoas que vão dizer “ah, não é a mesma coisa porque coiso”. Então porque é que um casal gay, não casado, pode adotar? Sim, vai ter que dizer que vive com um “amigo/a”, mas pode. Isto também tem um nome: hipocrisia.

Senhores deputados, tenham juízo, porque começam a restar muito poucos adjetivos depreciativos para vos atribuir, e guardem os assuntos de casa em casa, e os assuntos dos cidadãos para o parlamento, sim?