No meu trabalho eu não me posso abster das minhas responsabilidades. Não posso, simplesmente, não participar. As consequências são óbvias e rapidamente imputáveis.
É exigido de mim que cumpra o que me comprometi a fazer e eu, por ter aceite essa responsabilidade cumpro. Não é bom nem mau, é o que é.
Na assembleia da república parece que essa responsabilidade é vista de uma forma frívola, muito embora todos os 230 deputados serem contra a abstenção quando se candidatam a qualquer órgão de soberania. Eles, que representam sufragicamente a nossa escolha, são os primeiros a fugir ao principio básico que defendem na democracia; eles, que são eleitos para defender os nossos interesses têm a opção de não se dignarem a fazê-lo, numa desresponsabilização umbilical, exatamente contrária à posição que deviam ter.
A visão distorcida de responsabilidade reflete algumas razões para estarmos onde estamos. Até todos sermos reconhecidos como cidadãos iguais é difícil acreditar que vamos superar esta fase de crise em conjunto e sem desigualdades.
Obrigada Miguel Cardoso pela inspiração noturna.