segunda-feira, 3 de agosto de 2015

O Estado da arte

A cultura em Portugal está a ser descorada. Ela é um pilar fundamental para qualquer país, para qualquer povo e para qualquer pessoa. É difícil que seja sempre rentável e, como tal, os financiamentos são tema constante neste campo, pois a falta dos mesmos podem torná-lo infértil.

Existem projetos que, devido ao seu retorno cultural, devem ter sempre um investimento do Estado ou de particulares. Outros, no entanto, devem ganhar um estado particular de autonomia, para dar lugar a novos projetos. As pessoas que estão há mais tempo na área lamentam-se da vida difícil. Imaginem o que custa ter talento mas não ter reputação, porque esse lugar está sempre ocupado.

Se há festivais de espetáculos que se repetem ano após ano e não dão frutos (ou pelo menos não se pagam), se há cineastas que tem carreiras de décadas, mas ainda não conseguem autonomia monetária para os seus filmes florescerem (como patrocínios, parcerias ou outros), não deveriam esses financiamentos ser transferidos para novos talentos e novos projetos emergentes?

Não se deveria dar oportunidade a outros que lutam com as mesmas dificuldades para crescer, mas que não têm a mesma força de impressão que um nome sonante? 
A ideia pode ser facilmente confundida com produção em massa e/ou para massas, ou com o trabalho “comercial”. Mas comercializar a cultura é tão mau como intelectualiza-la para elites do meio. Os intelectuais portugueses, por vezes, são muito intelectuais e os comerciais talvez sejam muito comerciais. Poderia ser interessante tornar estes dois tipos de pessoas mais ecléticas. 

E isto não é uma ofensa às artes. Vamos ser realistas, um artista gosta de fazer dinheiro com a sua criatividade e não deixa de ser menos sério por causa disso. Não sei como é que funcionavam os artistas rupestres, mas, desde que existem trocas comerciais, a arte tem um valor, e quem a faz deve abraçar esse facto, porque ser artista é, também, ter uma profissão. 

Quando se trabalha, nem todos os dias são perfeitos e nem todos os dias se faz o que se quer. Ainda bem. Isto permite abrir perspetivas, explorar, superar desafios e aprender, ou achar que não é nada disto que queremos fazer para o resto das nossas vidas.
Se o Estado e os particulares tivessem, ou quisessem, investir muito dinheiro na cultura, era espetacular. Mas isso não existe e, mesmo assim, não defenderia o subsídio vitalício para determinados projetos, porque a estagnação também mata a cultura.
Para terminar, faço aqui uma grande ressalva às exceções, lembrando que não estão em causa os financiamentos e o seu bem para a cultura; estão em causa os projetos e as pessoas que se encostam neles de tal forma que os tomam por garantidos, só porque, em tempos, foram uma boa ideia.