segunda-feira, 18 de julho de 2011

Com o mal dos outros posso eu bem

Esta felicidade que temos em ver alguém pior que nós é perigosa. Isto acontece a todos os portugueses no seu dia-a-dia, mas quando acontece a nível nacional e político é perigoso, quase a roçar o parvo. A justificação permanente de que "Nós não somos como a Grécia, estamos muito melhor", é errada. Nós não somos realmente como a Grécia, por isso é irrelevante a nossa situação ser melhor ou pior que a dos gregos, porque o nosso país e a nossa economia não funcionam da mesma forma.

Não é pela Grécia estar pior que devemos ficar contentes, a desgraça dos outros não devia ser motivo para ficarmos descansados, e muito menos para acharmos que é mais fácil dar a volta por cima. Não se iludam, estamos mal, aliás, estamos muito mal. A corrupção e as injustiças são evidentes. A visão ampliada de que os políticos são o nosso mal é errada.

Quando olho à minha volta é claro que Portugal não está bem. Conheço casos de pessoas que trabalham cerca de 14 horas por dia em empresas privadas, sem receberem o equivalente pelo seu esforço e pelo seu desgaste; conheço pessoas que trabalham em empresas do Estado e, por serem demasiado competentes, foram postas na prateleira porque as chefias se sentiam ameaçadas; nos serviços públicos, mais concretamente nos hospitais, já foram várias as vezes em que vi casos simples como pernas partidas, serem diagnosticadas como entorses; entre outras coisas que me preocupam severamente, e cada vez mais, no nosso país.

Esta constante comparação com outros não ajuda a enfrentarmos com a devida preocupação os problemas que temos pela frente, muito pelo contrário, ameniza-os de uma forma infantil. Faz-me lembrar quando tinha que anunciar uma má nota aos meus pais e tentava justificar-me explicando que não sei quem também tinha tido uma nota terrível. A resposta era sempre a mesma: não quero saber da nota dos outros, os pais deles que se entendam, são as tuas notas que me preocupam. 

Acho que o nosso país precisa de pais mais exemplares.




2 comentários:

  1. Obrigado, pela parte que me toca vou tentar melhores notas...

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  2. Gostei do texto, quer pelo conteúdo quer pela forma arejada como escreves!

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