A crise anda por aí nas ruas. É uma senhora vestida de roupa gasta, um homem a esconder os olhos no chão e, no outro dia, fitou-me com ar de desespero no corpo de uma pessoa qualquer.
Eu vejo-a por aí, tento evitá-la mas ela implica e esbarra-se comigo. Rouba-me o ordenado, cobra-me impostos insustentáveis e ainda se ri. Depois transforma-se em palavra na boca gulosa de alguém que diz que resolve mas não faz nada, que debita sem prazos soluções a crédito.
Tenho cada vez mais amigos que fogem do país para ela não vir atrás. Resulta. Cada vez mais, ela deixa-se ficar aqui, confortavelmente, a fazer de Portugal um lar.
Tenho cada vez mais amigos que fogem do país para ela não vir atrás. Resulta. Cada vez mais, ela deixa-se ficar aqui, confortavelmente, a fazer de Portugal um lar.
Ontem aproximou-se de mim para me pedir um cigarro, porque a crise fuma e bebe muito, mas eu não tinha. Não fumo. Pensei dar-lhe comida, num qualquer alívio da minha consciência, mas também não tinha. Mas eu como. Então ela abraçou-me num descarinho que ainda hoje não me largou.
Gosto da maneira e do carinho com que a descreves. Quase que não parece abjecta. No entanto é nos imposta, não a desejamos e não temos força para a afastar, ou será que iremos conseguir?
ResponderEliminarEu quero acreditar que sim, mesmo que ela tenha a mania de andar disfarçada.
EliminarMuito bom texto!
ResponderEliminarÉ irónico como a crise pode ser inspiradora.
Eliminar