segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Ortografia

Há línguas mortas, há línguas incompreensíveis, há más língua, há língua estufada, há línguas de perguntador, há línguas de veado e esta variedade mostra como são versáteis. Tal como qualquer sociedade que evolui, o idioma está também em constante mutação. Há muitas palavras novas que aparecem e muitas vezes nem damos conta. Não deverá a ortografia acompanhar esta tendência dinâmica do nosso linguajar?
Se este post acabasse no parágrafo anterior, era ver catrefadas de comentários a dizer “o novo acordo é feio e cheira mal” e coisas piores ainda, visto que a língua também é traiçoeira.
Então, para os ferrenhos do não, piores que adeptos ferrenhos de coisas que não me lembro, qual é a palavra portuguesa para ketchup? Quetechupe (com o novo acordo ortográfico, o K, Y e W vão fazer parte do nosso abecedário)?;
Quantos de vocês dizem “adopetar” e que grande diferença fará escrever adotar a nível de compreensão (com o novo acordo ortográfico, as letras que não se pronunciam vão ser suprimidas)? Não se preocupem que continuam a poder dizer contacto, adaptado, bactéria, entre outras coisas.
Claro que, como em todas as mudanças, também há pontos maus. Mas, se a feieza e o mau cheiro provêm apenas do reacionarismo, recorram a uns banhos thermaes ou a uma pharmácia para ver se elles vos apontam a cura.


7 comentários:

  1. Concordo plenamente, temos que seguir o percurso natural das coisas, a evolução, ou o ser humano não é um ser constante adaptação, evolução? Como podemos constatar pela teoria evolucionista, quem estagna no processo evolutivo fica para trás e eventualmente é "suprimido" da selecção natural. Como a linguagem para mim é o processo mais "natural" para a comunicação, também ela e as suas raízes devem ser questionadas, devem ser postas em causa, debatidas e reformuladas constantemente. E não para achincalhar conservadorismos exacerbados mas para fazer da comunicação um processo cada vez mais eficaz e actual, que acompanhe o crescimento cada vez mais rápido da sociedade. Falo da linguagem como falo de tantos outros assuntos que sofrem de conservadorite aguda... Falo da própria noção de democracia, cujas raízes remontam à Grécia antiga, falo da moral, religião, ética. A evolução não se processa se não questionarmos até a mais sólida ideia que possamos ter do mundo. Será que a linguagem como nós a conhecemos agora é a melhor maneira de comunicar uma ideia? Quais podem ser os veículos para a transmissão da mesma para que seja percepcionada? Será que é a supressão de um "C" ou um "P" que só aparece no papel, que nos faz a diferença? Ou é só um orgulho e talvez um nacionalismo retrógado que nos faz reagir de tal forma?...

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  2. Não nos podemos esquecer porém da linguagem como obra de arte. Aí sim o "ornamento" tem sentido! Não podemos cair no erro futuro de tornar a nossa lingua numa espécie de Novilingua, privada da organicidade da escrita criativa e castradora do pensamento com alma. No caso do romance 1984 de George Orwell um regime totalitário reformula a linguagem, reduzindo-a, castrando-a, despindo-a de alma, com o intuito de restringir pensamentos "desviantes" à ideologia do "partido". Este é apenas um exemplo ficcional com um cariz bastante real. Devemos evoluir sim, mas conscientes, e respeitando o passado do ADN cultural contido em cada uma das línguas.

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  3. Se alguém tem falta de Cs, comam laranjas! se sentem falta de Ps comam laranjas também (porque o PPD/PSD tem muito P mas pouca vitamina C)!

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  4. Post útil. Tenho vindo a receber mensagens sobre o AO, em que a indignação é proporcional ao desconhecimento. Uma dessas mensagens, por exemplo, inflamava-se dizendo que nunca iria submeter-se ao imperialismo brasileiro e dizer «pato» em vez de «pacto»; ora isto, como bem refere este post, não é, obviamente, contemplado pelo acordo (os próprios brasileiros dizem e escrevem pacto).
    Tenho a opinião de que o acordo está longe de ser o ideal, mas acho que era preciso um acordo; portanto é melhor este do que nenhum.
    Quem se opõe apenas com argumentos do hábito tem, a este respeito uma posição conservadora, esquecendo-se de que a língua é feita pelos falantes, de que estes a vão modificando, e de que as normas da escrita apenas procuram correr atrás das modificações que vão sendo, desse modo, introduzidas. Pode-se errar, mas é preciso que isto seja feito.
    Escrevi isto sem ter lido os outros comentários; depois vi que nestes já estão expressas estas ideias. Mas lá vai, à mesma.

    («poder» e não «puder»)

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  5. Como qualquer forma de arte, a técnica evolui. Não nos pudemos é esquecer que a evolução nem sempre é uma coisa positiva. Mas, neste caso específico, o big brother não está por trás disto tudo. Digo eu.

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  6. eu aprendi à porrada a escrever com todas as letrinhas; vou continuar; isso não impede que esteja de acordo que haja acordo; a nova ortografia ainda me fere as vistinhas mas hei-de habituar-me rs

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  7. e ninguém tem que ficar preocupado porque não vai haver a polícia da escrita a multar quem não obedece. O que custa é começar (até aos mais familiarizados). Mas sendo que o português é a quinta língua mais faladas no mundo, temos que aproveitar. Quem sabe esta não será a nova etapa de uns novos descobrimentos.

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