segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Cavaco, deixa-me ir morar contigo!

Na última sexta-feira senti um arrepio quando cheguei à nossa casa, agora habitada pelo Aníbal. Perdão, senhor Aníbal que, com esta pessoa, não há “tu cá tu lá”. Ele vem de uma realidade paralela onde conceitos como “ser pobre” ou “ser economista” têm significados completamente diferentes dos nossos. 

Juntou-se um número considerável de pessoas solidárias umas com as outras, porque estar ali significava um descontentamento profundo, e comum, com o que se passa no nosso país. As palavras eram espalhadas numa onda de vozes que se propagavam rapidamente entre os presentes e chocavam com outras que vinham do sentido oposto numa tempestade de descontentamento. 

Entre um grupo de militares fortemente aplaudido e uma criança que decidiu gritar em plenos pulmões “o governo é cocó”, só não encontrei, para meu espanto, aqueles estudantes eternamente de luto que tenho visto todos os dias pelas ruas do bairro alto, mais mortos que vivos, num passo zombie a abrir caminho entre os milhares de copos de plástico espalhados pelo chão; que uivam durante a noite dificultando-me o sono. 

Apeteceu-me pegar num deles e dizer “Então, pá? Não percebes que esta luta é de todos, mas o teu futuro é maior que o meu, logo as consequências na tua vida vão ser maiores do que na minha vida?”. Mas tive pena dele, de mim, de nós. Segui em frente, com esperança de dia 29 ver mais estudantes num nojo diferente. 



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